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Na República dos Pyn-guyns, na alta coimbrã, a vida processava-se com normalidade (embora o normal fosse, amiudadas vezes, bastante invulgar).
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Os que frequentavam Direito partilhavam dois quartos no andar superior, ficando outros tantos desse piso para os das Engenharias. Por volta da meia-noite, estes tratavam de se deitar, para se levantarem por volta das sete horas da manhã, para não faltarem às aulas, hora a que os jurídicos costumavam ir para a cama. Isto tinha, desde logo, a vantagem de nos cumprimentarmos, pelo menos, duas vezes por dia. A outra vantagem traduzia-se na impossibilidade prática de ir às aulas, já que estávamos a dormir, no momento em que ocorriam. Por aqui se vê, claramente, que me incluía no grupo dos homens das leis.
Os que frequentavam Direito partilhavam dois quartos no andar superior, ficando outros tantos desse piso para os das Engenharias. Por volta da meia-noite, estes tratavam de se deitar, para se levantarem por volta das sete horas da manhã, para não faltarem às aulas, hora a que os jurídicos costumavam ir para a cama. Isto tinha, desde logo, a vantagem de nos cumprimentarmos, pelo menos, duas vezes por dia. A outra vantagem traduzia-se na impossibilidade prática de ir às aulas, já que estávamos a dormir, no momento em que ocorriam. Por aqui se vê, claramente, que me incluía no grupo dos homens das leis.
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Éramos, à data da minha chegada a Coimbra, cerca de três centenas e meia de miúdos a frequentar a Faculdade de Direito, deslumbrados com a cidade (universitária), a vivência (universitária) e as pessoas (universitárias). O mundo resumia-se à Universidade e a tudo que dela ou nela acontecia. Nas primeiras semanas, também éramos trezentos e cinquenta nas aulas, em anfiteatros que não albergavam mais do que uma centena, pelo que nos espalhávamos por mesas, escadas, degraus, parapeitos de janelas e demais nichos que encontrássemos.
Éramos, à data da minha chegada a Coimbra, cerca de três centenas e meia de miúdos a frequentar a Faculdade de Direito, deslumbrados com a cidade (universitária), a vivência (universitária) e as pessoas (universitárias). O mundo resumia-se à Universidade e a tudo que dela ou nela acontecia. Nas primeiras semanas, também éramos trezentos e cinquenta nas aulas, em anfiteatros que não albergavam mais do que uma centena, pelo que nos espalhávamos por mesas, escadas, degraus, parapeitos de janelas e demais nichos que encontrássemos.
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Ao fim do primeiro mês, poucas dezenas sobejavam: tínhamos descoberto que o curso era sebentístico, ou seja, tudo o que o lente (ou os seus assistentes, nas práticas) diziam estava plasmado nesses suportes de estudo, as famosas sebentas. Eu fui dos primeiros a deixar de me preocupar com a presença nas aulas teóricas, mal descobri que as faltas não eram contabilizadas. Na aula de abertura, o Professor Catedrático explicou o principal objectivo do Direito, a busca da paz social:
Ao fim do primeiro mês, poucas dezenas sobejavam: tínhamos descoberto que o curso era sebentístico, ou seja, tudo o que o lente (ou os seus assistentes, nas práticas) diziam estava plasmado nesses suportes de estudo, as famosas sebentas. Eu fui dos primeiros a deixar de me preocupar com a presença nas aulas teóricas, mal descobri que as faltas não eram contabilizadas. Na aula de abertura, o Professor Catedrático explicou o principal objectivo do Direito, a busca da paz social:
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- Mas que paz é esta? A paz dos cemitérios? A paz queda e sombria que habita o mundo dos mortos? Não! É a paz da vida, que há-de nascer na dinâmica das relações, a paz vivente e eufórica que os homens são capazes de construir!
- Mas que paz é esta? A paz dos cemitérios? A paz queda e sombria que habita o mundo dos mortos? Não! É a paz da vida, que há-de nascer na dinâmica das relações, a paz vivente e eufórica que os homens são capazes de construir!
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Pois bem, depois de comprar a sebenta respectiva, mal a folheei, que salta aos meus olhos, na segunda ou terceira página? Exactamente: “Mas que paz é esta? A paz dos cemitérios? A paz queda e sombria que habita o mundo dos mortos? Não! É a paz da vida, que há-de nascer na dinâmica das relações, a paz vivente e eufórica que os homens são capazes de construir!” Ainda mal refeito do susto, entro na aula prática respectiva e, alguns minutos após o seu início, diz o leal assistente:
Pois bem, depois de comprar a sebenta respectiva, mal a folheei, que salta aos meus olhos, na segunda ou terceira página? Exactamente: “Mas que paz é esta? A paz dos cemitérios? A paz queda e sombria que habita o mundo dos mortos? Não! É a paz da vida, que há-de nascer na dinâmica das relações, a paz vivente e eufórica que os homens são capazes de construir!” Ainda mal refeito do susto, entro na aula prática respectiva e, alguns minutos após o seu início, diz o leal assistente:
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- Mas que paz é esta? A paz dos cemitérios? A paz queda e sombria que habita o mundo dos mortos? Não! É a paz da vida, que há-de nascer na dinâmica das relações, a paz vivente e eufórica que os homens são capazes de construir!
- Mas que paz é esta? A paz dos cemitérios? A paz queda e sombria que habita o mundo dos mortos? Não! É a paz da vida, que há-de nascer na dinâmica das relações, a paz vivente e eufórica que os homens são capazes de construir!
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Em abono da verdade, as palavras não seriam exactamente estas, mas o efeito era este, sem qualquer dúvida. Deste modo, mal os colegas mais velhos me confirmaram que era sempre assim, passei a ocupar o tempo com mais utilidade, ouvindo fados e baladas pela noite dentro, fumando e bebendo sem grande regra, jogando cartas e conversando, conversando muito.
Bons tempos.
Em abono da verdade, as palavras não seriam exactamente estas, mas o efeito era este, sem qualquer dúvida. Deste modo, mal os colegas mais velhos me confirmaram que era sempre assim, passei a ocupar o tempo com mais utilidade, ouvindo fados e baladas pela noite dentro, fumando e bebendo sem grande regra, jogando cartas e conversando, conversando muito.
Bons tempos.
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