sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Antes do Natal

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Um mimo para os fraquinhos ...
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Ai ai ...
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E um mimo para os parceiros
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Enfim!
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quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Bate de vez em quando

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Por vezes, tropeçamos num local, num texto, numa imagem ou numa canção que nos diz mais do que devia ...
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Aconteceu hoje, comigo. A conduzir, na rádio passou uma canção do Sr. Fausto que gostei de relembrar e que, com naturalidade, me fez pensar nas relações que, ano após ano, construo.
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Também eu tenho um fraquinho por ti. E as duas últimas estrofes (é assim que se diz?), são tiros certeiros.
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À falta de vídeo, aqui vai o poema:
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Eu Tenho Um Fraquinho Por Ti
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Eu tenho um fraquinho por ti
tu não me dás atenção
tu não me passas cartão
quando me ponho a teu lado
tremo nervoso de agrado
e meto os pés pelas mãos
tu vais gozando um bocado
a beber vinho tostão
eu com o discurso engasgado
fico a um canto, que arrelia
de toda a cervejaria
onde vais rasgar a noite
se te olho com ternura
olhas-me do alto da burra
que mais parece um açoite
é um susto um arrepio
que me malha em ferro frio.
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Eu tenho um fraquinho por ti
que me vai de lés a lés
tu dás-me sempre com os pés
quando me atiro enamorado
num estilo desajeitado
disfarço em bagaço e café
tu fumas o teu cruzado
e fazes troça, pois é,
já tenho o caldo entornado
esqueces-me da noite p´ro dia
em alegre companhia
de batidas e rodadas
tu ficas nas sete quintas
marimbas, estás-te nas tintas
p´ra que eu ande às três pancadas
basta um toque sedutor
eu cá sou um pinga-amor.
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Eu tenho um fraquinho por ti
que me abrasa o coração
quase me arrasa a razão
a tua risada rasteira
põe-me de rastos, à beira
do enfarte da congestão
encharco-me em chá de cidreira
mofas de mim atiras-te ao chão
zombando à tua maneira
lá fazes a despedida
ao grupo que vai de saída
dos amigos da Trindade
mas no fim da noite, à noitinha,
tu ficas triste e sozinha
à procura de amizade
e como é costume teu
chamas o parvo que sou eu.
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Afino uma voz de tenor
ensaio um ar duro de macho
quando estás na mó de baixo
quero ver-te arrependida
mas numa manobra atrevida
rufia, muito mansinha,
dás-me um beijo e uma turrinha
que me põe num molho num cacho
estremeço com pele de galinha
e gosto de ti trapaceira
da tua piada certeira
do teu aparte final
do teu jeito irreverente
do teu aspecto contente
do teu modo bestial
noutra palavra mais quente
eu tenho um fraquinho por ti.
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Engraçado, ao longo dos anos tive sempre fraquinhos. Foi mudando, por vezes era mais do que um, mas não recordo tempos sem nenhum. Mesmo agora, já repassado, tenho fraquinhos (isso mesmo, plural). Pelo menos, estou vivo ...
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domingo, 11 de novembro de 2007

Espreitar por cima do ombro

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Que tempos, aqueles! As candeias, tremeluzentes, eram a única fonte de luz, mal o sol desaparecia nos cumes das serranias que cercavam, e ainda cercam, esta terra profundamente minhota.
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O colchão de palha, mexida todos os dias, para repor a textura perfeita para a noite seguinte, estava coberto por ásperos lençóis de linho, frios e duros aquando da ida para a cama. Estes rapidamente se enchiam dum calor acolhedor, confortante, donde só saía um nariz envergonhado, à procura do ar fresco que limpava a alma, enquanto dormíamos.
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Os cobertores, pesados e sufocantes nas noites mais frias e cristalinas do fim da primavera, iam diminuindo em número conforme o tempo aquecia, mantendo uma sensação de conforto que se não esquece.
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Os grilos e os ralos cantavam uma canção constante, eterna, pelo menos nas noites de verão, sem com isso impedir a chegada do sono, retemperador embora inquieto, sobre uma miríade de imagens mentais, que povoavam os sonhos da nossa satisfação.
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Claras e brilhantes, centradas nas gotas de orvalho pousadas nos picos do mato, as manhãs corriam em direcção ao almoço sem parar, com o sol a começar a amadurecer os campos e a secar as fontes mais tímidas, de minas pouco ambiciosas e não muito fundas.
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O vinho verde, quase sempre tinto, que o branco pouco se fazia, era tão mais saboroso quanto mais pintasse a malga, nos movimentos circulares que os entendidos lhe provocavam, para melhor o conhecer. Arranhando na garganta, dizia-se que tinha alma, nascida tanto da qualidade da uva quanto do produto que, comedidamente, se lhe juntava no momento de engarrafar - bem trabalhoso, com o lavar de dezenas ou centenas de garrafas, todas de verde profundo e duro. A rolha de cortiça era apetrecho que não faltava.
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Falta referir o presunto, os enchidos e a bola de carne, cozida no forno a lenha, enquanto este aquecia e esperava a massa da boroa de milho, que só lá e nesse tempo se podia chamar de caseira. E o azeite, sem preocupações de acidez ou de qualidade, as batatas, com um sabor que só aquela terra, de pousio e rotação, lhe conseguia dar, a sopa – meu Deus, a deliciosa sopa feita nos potes de ferro fundido, com pedaços do lume repousando na superfície, fosse de vagens ou de penca …
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Mais valerá não falar sequer do frango caseiro, das febras do porco que era imolado nos dias mais frios, da carne das vitelas que pastavam nos campos ou eram alimentadas nas cortes - isso significava algo que, agora, só se insinua nas saídas para o interior mais profundo do país, sobretudo para lá do Marão.
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