quinta-feira, 27 de dezembro de 2007

Tempo de dádiva

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Não aprecio muito, sobretudo quem interpreta, mas como sei que algumas visitas gostam, aqui vão 3 ofertas da casa:
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A anedota sou eu (e eu não podia estar mais de acordo!)
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Quero safar-me de ti ... pois!
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E acorda-me antes de ires embora, para eu ter a certeza que ...
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Pffffff.
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sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Elevadas, do chão ao infinito, do mar às deusas

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Às mulheres, as que foram e as que estão e as que sempre serão, estando ou não.
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Um beijo.
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sábado, 8 de dezembro de 2007

Destino, opções e coragem

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O destino é, conceptualmente, difuso, diria mesmo confuso. Muitos não sabem se está traçado ou se vai sendo construído. Uns garantem que nada há a decidir, tudo está previsto, nas estrelas ou noutro lado qualquer. Outros afirmam que é aquilo que nós fazemos, todos os dias. Há, ainda, quem considere que não existe.
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Só é possível tomar parte na discussão se analisarmos o passado, verificando o que fizemos e porque o fizemos. Esta fórmula tenta-me a acompanhar quem diz que ele não existe, que não existe isso de vida desenhada, traçada, coerente e determinada – seja previamente, seja momento a momento, por cada um. Mas também me obriga a aceitar que, seja por desígnio divino, seja por auto-controlo dos actos praticados, o destino é uma realidade factual.
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Nascer é acção decidida por outrem, sempre. Se somos o mais jovem do grupo e se os nossos pais não o planearam, então essa coisa do destino não é tão impossível assim.
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Durante anos, o que fazemos é pouco nosso, muito mais o que outros querem. Mas crescer é tanto nosso quanto do meio. Desde muito cedo, somos confrontados com oportunidades, com opções, que ocorrem indiscriminadamente e inesperadamente. O que com elas fazemos decide muito do que vamos ser. Estudar ou não, respeitar ou ser mal-educado, cumprir as regras ou delinquir, arriscar ou assegurar, tudo conta.
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Basta pensar em quem nos acompanhou, nos bancos da Escola. Os que ficaram para trás, os que sempre lideraram, os que morreram pelas opções que tomaram. E nós, no que decidimos, quando o fizemos. A área que escolhemos, o curso que seguimos, a profissão que abraçamos, os amigos, o cônjuge (bela palavra, até pelo género) … .
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Em todo o caso, foram muitas as vezes que escolhemos, que optamos. Fizemo-lo de forma mais consensual, conservadora, ou mais radical, conflituosa.
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O que nos distingue, em muitos destes passos dados, não é a oportunidade surgir (porque ela surge, sempre) – é a forma como a tratamos. A coragem de cortar com o conhecido, o seguro, e avançar, decididos, para um futuro que não dominámos. Ou, em alternativa, não o fazer, e ficar acomodado no mundo que dominamos.
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A minha vida não foi serena, linear – não o está a ser, sequer. Estudei numa Escola (Liceu) destinada a prendar as raparigas para o casamento e a preparar os rapazes para uma vida melhor (mantida ou conquistada, conforme o status social da família). Porque oriundo de meio não abastado, fui mais feliz que aqueles que estudaram na Escola alternativa (Industrial e Comercial), a que não criava grandes opções para os tempos vindouros, antes mantinha a estrutura social vigente. Vivíamos um tempo de contrastes obscuros, de cinzentos mais ou menos graduados.
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Cresci mudando, umas vezes pouco ou sem sobressaltos, outras mais dramaticamente. Ao entrar no Superior, mudei de cidade, saí das saias da mãe. Ao terminar o curso, arrisquei num futuro incerto mas aberto. Recuei e acantonei-me na segurança da rotina. Recentemente, de alguma forma, voltei-me para caminhos de ruptura, que estou pronto a percorrer.
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Fiz a minha vida? Creio que sim. Estou, ainda, a projectá-la? Sem dúvida. Fui corajoso? Não tanto quanto deveria ter sido, no passado. Hoje, sou apenas realista. Não quero morrer antes do tempo, não quero ficar parado e ser afastado. Só por isso me movo. Só por isso, aceito mudar.
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Mais uma vez.
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sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Antes do Natal

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Um mimo para os fraquinhos ...
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Ai ai ...
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E um mimo para os parceiros
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Enfim!
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quinta-feira, 15 de novembro de 2007

Bate de vez em quando

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Por vezes, tropeçamos num local, num texto, numa imagem ou numa canção que nos diz mais do que devia ...
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Aconteceu hoje, comigo. A conduzir, na rádio passou uma canção do Sr. Fausto que gostei de relembrar e que, com naturalidade, me fez pensar nas relações que, ano após ano, construo.
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Também eu tenho um fraquinho por ti. E as duas últimas estrofes (é assim que se diz?), são tiros certeiros.
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À falta de vídeo, aqui vai o poema:
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Eu Tenho Um Fraquinho Por Ti
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Eu tenho um fraquinho por ti
tu não me dás atenção
tu não me passas cartão
quando me ponho a teu lado
tremo nervoso de agrado
e meto os pés pelas mãos
tu vais gozando um bocado
a beber vinho tostão
eu com o discurso engasgado
fico a um canto, que arrelia
de toda a cervejaria
onde vais rasgar a noite
se te olho com ternura
olhas-me do alto da burra
que mais parece um açoite
é um susto um arrepio
que me malha em ferro frio.
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Eu tenho um fraquinho por ti
que me vai de lés a lés
tu dás-me sempre com os pés
quando me atiro enamorado
num estilo desajeitado
disfarço em bagaço e café
tu fumas o teu cruzado
e fazes troça, pois é,
já tenho o caldo entornado
esqueces-me da noite p´ro dia
em alegre companhia
de batidas e rodadas
tu ficas nas sete quintas
marimbas, estás-te nas tintas
p´ra que eu ande às três pancadas
basta um toque sedutor
eu cá sou um pinga-amor.
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Eu tenho um fraquinho por ti
que me abrasa o coração
quase me arrasa a razão
a tua risada rasteira
põe-me de rastos, à beira
do enfarte da congestão
encharco-me em chá de cidreira
mofas de mim atiras-te ao chão
zombando à tua maneira
lá fazes a despedida
ao grupo que vai de saída
dos amigos da Trindade
mas no fim da noite, à noitinha,
tu ficas triste e sozinha
à procura de amizade
e como é costume teu
chamas o parvo que sou eu.
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Afino uma voz de tenor
ensaio um ar duro de macho
quando estás na mó de baixo
quero ver-te arrependida
mas numa manobra atrevida
rufia, muito mansinha,
dás-me um beijo e uma turrinha
que me põe num molho num cacho
estremeço com pele de galinha
e gosto de ti trapaceira
da tua piada certeira
do teu aparte final
do teu jeito irreverente
do teu aspecto contente
do teu modo bestial
noutra palavra mais quente
eu tenho um fraquinho por ti.
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Engraçado, ao longo dos anos tive sempre fraquinhos. Foi mudando, por vezes era mais do que um, mas não recordo tempos sem nenhum. Mesmo agora, já repassado, tenho fraquinhos (isso mesmo, plural). Pelo menos, estou vivo ...
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domingo, 11 de novembro de 2007

Espreitar por cima do ombro

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Que tempos, aqueles! As candeias, tremeluzentes, eram a única fonte de luz, mal o sol desaparecia nos cumes das serranias que cercavam, e ainda cercam, esta terra profundamente minhota.
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O colchão de palha, mexida todos os dias, para repor a textura perfeita para a noite seguinte, estava coberto por ásperos lençóis de linho, frios e duros aquando da ida para a cama. Estes rapidamente se enchiam dum calor acolhedor, confortante, donde só saía um nariz envergonhado, à procura do ar fresco que limpava a alma, enquanto dormíamos.
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Os cobertores, pesados e sufocantes nas noites mais frias e cristalinas do fim da primavera, iam diminuindo em número conforme o tempo aquecia, mantendo uma sensação de conforto que se não esquece.
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Os grilos e os ralos cantavam uma canção constante, eterna, pelo menos nas noites de verão, sem com isso impedir a chegada do sono, retemperador embora inquieto, sobre uma miríade de imagens mentais, que povoavam os sonhos da nossa satisfação.
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Claras e brilhantes, centradas nas gotas de orvalho pousadas nos picos do mato, as manhãs corriam em direcção ao almoço sem parar, com o sol a começar a amadurecer os campos e a secar as fontes mais tímidas, de minas pouco ambiciosas e não muito fundas.
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O vinho verde, quase sempre tinto, que o branco pouco se fazia, era tão mais saboroso quanto mais pintasse a malga, nos movimentos circulares que os entendidos lhe provocavam, para melhor o conhecer. Arranhando na garganta, dizia-se que tinha alma, nascida tanto da qualidade da uva quanto do produto que, comedidamente, se lhe juntava no momento de engarrafar - bem trabalhoso, com o lavar de dezenas ou centenas de garrafas, todas de verde profundo e duro. A rolha de cortiça era apetrecho que não faltava.
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Falta referir o presunto, os enchidos e a bola de carne, cozida no forno a lenha, enquanto este aquecia e esperava a massa da boroa de milho, que só lá e nesse tempo se podia chamar de caseira. E o azeite, sem preocupações de acidez ou de qualidade, as batatas, com um sabor que só aquela terra, de pousio e rotação, lhe conseguia dar, a sopa – meu Deus, a deliciosa sopa feita nos potes de ferro fundido, com pedaços do lume repousando na superfície, fosse de vagens ou de penca …
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Mais valerá não falar sequer do frango caseiro, das febras do porco que era imolado nos dias mais frios, da carne das vitelas que pastavam nos campos ou eram alimentadas nas cortes - isso significava algo que, agora, só se insinua nas saídas para o interior mais profundo do país, sobretudo para lá do Marão.
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domingo, 28 de outubro de 2007

Paisagem, peixes e memórias

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Só nos últimos anos do gozo das minhas férias escolares, em Celorico, a pesca foi um passatempo assumido, embora tenha que reconhecer que os momentos que lhe dediquei foram, no mínimo, muito agradáveis.
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Pescava com o Manel, Bengalas de apelido, que o herdou porque o pai costumava resolver, as pequenas escaramuças que pelejava, com a frase “olha que te dou uma bengalada”! Bem mais velho do que eu, cedo descobriu os prazeres da natureza, ele que havia nascido no seu meio, em Fontão, e em miúdo havia abalado para o Porto, para trabalhar num banco, sem nunca deixar de sentir que perdia muito, se não regressasse, mal tivesse oportunidade, à terra mãe.
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Dono de uma passada larga, que eu mal acompanhava, embora fosse algo mais alto do que ele, o Manel era uma surpresa para mim, em quase tudo o que fazia. Introvertido, dono de um sorriso malandro que aflorava sempre que nos distraíamos, depois de me conhecer convidou-me a acompanhá-lo numa “pescaria num fundo que tinha descoberto na semana passada, cheiinho de peixes”, como me foi confidenciando. Quando soube que desconhecia, por completo, a arte, logo me introduziu nos seus segredos. Embora adorasse caçar, a pesca não lhe escondia muita coisa.
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Levou-me a sua casa, onde se podia escolher uma cana para o “novato”, como me chamava. Acabado de regressar do Ultramar, onde havia sofrido um acidente complicado, que lhe afectava a respiração, considerava que Celorico era o lugar perfeito para a total recuperação. Acho que nunca vi tanta cana junta. Rudimentares, eram todas “da índia”, a melhor cana da pesca que uma pessoa podia ter, segundo a sua douta opinião.
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Após escolher uma para si e outra para mim, fomos à Corujeira de Baixo, a um canavial, cortar uma mão cheia delas, de vários tamanhos, para eu não precisar de usar as suas, no futuro. Ensinou-me a escolhê-las, a limpá-las da ramagem e a pendurá-las, em local abrigado, para secarem sem entortar. Só no verão seguinte estariam prontas, mas até lá as dele chegavam e sobravam.
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Veio, depois, a difícil aprendizagem de preparar o isco. Boroa molhada em azeite, amassada em pequenas bolas, constituía o primeiro que tinha que fazer (a minha tia franzia o sobrolho, com o destino do seu apreciado azeite). Depois, apanhar moscas, com um gesto rápido da mão, esmagando-lhe a cabeça “para manterem o aspecto de mosca viva, com asas e tudo” (ah, isso está bem, que nos livras dalgumas dessas pestes", dizia ela) - ficava assim pronto outro isco. Numa zona muito húmida, perto de sua casa, estava o terceiro tipo de “atracção fatal” para peixes. As larvas que se banqueteavam com uma sardinha que tinha enterrado alguns dias antes eram os famosos “morcões”, que os habitantes do rio não desdenhavam. Por último, a minhoca, só encontrada em lameiros que ele bem conhecia de outras andanças – as da caça, que lhe serviam para descobrir tudo o que precisava.
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Quanto a linha, anzóis, tensos, bóias e chumbos, ele fornecia “desta vez”. Na próxima, tinha que me desenrascar. Difícil, difícil, era fazer tensos. O chumbo, enroscado na linha quando em fita, ou apertando o fio de pesca no centro da esfera, quando tinha esse formato, ainda ia. Agora dar o nó de pescador no anzol, de forma a ficar seguro e direito, era uma dor de alma!
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Tudo corria bem, nos preparativos. Quando já estava tudo pronto, e a hora da janta se aproximava, veio a notícia menos agradável: sairíamos às 03h30 da manhã, para chegarmos ao Tâmega ao nascer do dia! Convinha ir assim cedo, para voltar antes do aperto do calor. Ah, e convinha levar um bom merendeiro, pois a “fominha ia apertar, ia, ia”!
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Ainda sem me aperceber muito bem no que me tinha metido, às 03h00 levantei-me (os meus tios assistiam à minha proeza com um sorriso largo, eles que começavam a trabalhar, todos os dias, mais ou menos às 05h00, e que estavam fartos de saber o que me custava levantar, de manhã), peguei no merendeiro antes preparado, na cana, na cesta, enfim, em mim mesmo, que bem precisava, e fui ter com um Bengalas já impaciente, ao cruzamento da Boavista.
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Foi uma das coisas que fiz, como adolescente, que jamais esquecerei. A caminhada brutal, de cerca de uma hora, até ao rio Tâmega, ao seu vau mais famoso, onde íamos começar a nossa pescaria; na chegada, uma espectacular raposa que nos esperava, bebendo desconfiada do lado de lá do rio - foi o Manel que ma apontou e me fez sinal para aquietar, para a apreciarmos durante mais tempo; o hipnotizante e sinuoso Tâmega, belíssimo e dono de fama terrível, que dizia que todos os dias tinha que comer algo vivo; corujas, falcões, coelhos e perdizes, a vida a pulular e a pintar a paisagem de pormenores fantásticos.
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Depois de lançar algumas linhas “ao fundo”, bem carregadas de isco e amarradas a arbustos, na margem, para recolher à volta, começamos a pescar à bóia, seguindo a correnteza, parando aqui e ali, se era “um bom pesqueiro”, voltando a seguir, passando de uma margem para a outra, sempre que era possível ou a isso éramos obrigados pelas zonas intransitáveis.
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Aprendi a conhecer e a distinguir os escalos, as vogas e os barbiscos, espécies que dominavam o rio nesse tempo. Mais tarde chegaram as trutas. Hoje, tanto quanto sei, já pouco ou nada por ali se vê. Custos do desenvolvimento, com a poluição a destruir quase tudo … haverá retorno?
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Quanto à pescaria, correu bem. Sorte de principiante, pesquei mais do que o Manel, sendo o último um magnífico exemplar de voga, a pesar mais do que um quilo. Chamei o meu amigo Bengalas e exibi-o, gritando: “olha Manel, o pai deles todos está aqui”.
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Pouco depois chegou a hora de regressarmos. Quando íamos arrancar, depois de retirar mais dois peixinhos dos lançamento ao fundo que havíamos feito, ele, como quem não quer a coisa, bateu na testa, tirou uma voga enorme do seu cesto, bem maior que a minha, e disse: “Já me esquecia, mas quando fiquei para trás, há pouco tempo, naquela curva mais apertada, apanhei o avô. Foi fácil, ouviu dizer que o filho e os netos tinham ido passear e resolveu acompanhá-los!”
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domingo, 21 de outubro de 2007

Segredo e reserva

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Voltando aos (ou volteando nos) conceitos próximos, e realçando que não se pretende aceder a qualquer positivismo, tratamos hoje de segredo e de reserva. Parece que são termos de alcance diferente – maior aquele, mais restrito este. Mas não é assim ...
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Os segredos são uma condição. Temo-los em função do que conhecemos e, sobretudo, do que escondemos. Podem nascer noutro e viajar na nossa direcção, ou podemos produzi-los. Em todo o caso, implicam um acto objectivo de ocultação. Questionados, negamos o seu conhecimento; não havendo perguntas, nada dizemos. Até uma dada altura, até que algo aconteça. A partir desse momento, dessa ocorrência, é legítimo, é mesmo imperioso que o divulguemos. Não está certo carregar os segredos para o túmulo - até porque isso vai obrigar à sua procura, posterior, com as dificuldades e os insucessos que a história documenta.
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Os segredos são incorrectos, no sentido em que os outros pensam que os devem conhecer e que não agimos bem ao guardá-los. Se sabem que temos segredos, não mais nos largam – querem conhecê-los de imediato e não entendem porque os continuamos a esconder. Podem não fazer a mínima ideia do que são, se são ou não importantes para si, mas isso é irrelevante. Se há um segredo, movem céu e terra para o desvendar.
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Quando os divulgámos, por que chegou o tempo ou aconteceu o que era condicionante, ou mesmo porque não fomos capazes de os guardar, sentimos tristeza, por perder algo, e muita satisfação – já não precisamos de continuar calados, podemos falar no assunto, agora com conhecimento de causa. Afinal, fomos nós que o lançámos no mundo!
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Já a reserva é algo pessoal, não tem origem noutros, não é transaccional. Temo-la desde muito cedo, num ou em diversos campos em que nos movimentamos. Alguma acompanha-nos pela vida fora. É um suporte essencial para a sanidade mental, para o bem-estar, para um sentimento de realização pessoal. Em situação normal, a nossa reserva não transpira, logo não é, muitas vezes, sequer acossada. Passa despercebida, camuflada.
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Mais uma vez, os outros com quem lidamos consideram errado que tenhamos este mundo privado. Também insistem. Por vezes, raramente mas acontecendo, desvendamos uma delas, ou a única. Quando o fazemos, nunca é por ter chegado o tempo ou ter-se verificado a condição. Nem sequer resulta da insistência do outro. Apenas porque achamos que esse outro merece a partilha, que não devemos privá-lo deste pedaço de vida que reservámos. Puro engano. Ainda que tal se revele só muitos anos depois, esse acto será sempre um erro, grosseiro. O outro nada ganha com o desvendar e nós perdemos muito – muitas vezes tudo.
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É saudável ter uma área da vida reservada. É bom manter essa reserva, para os momentos (que sempre surgem) menos bons. É aceitável que o outro a tenha e é adequado não a procurar – e nunca solicitar que no-la revelem é uma boa forma de (con) viver com o outro.
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Eu tenho algumas reservas. Os segredos da minha vida estão revelados. Vou ter mais alguns segredos, que irei divulgar. Mas o que reservo na minha vida é para continuar assim.
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terça-feira, 16 de outubro de 2007

Viagem ao centro da arte

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Silent Movie, La Dernier Folie ou A Última Loucura, de Mel Brooks. Entre outras coisas, Marcel Marceau como única personagem que ... fala, num filme mudo.
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As pistas que um filme destes dá ... létes luque ate a treiler:
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Apreciem um pouco mais do humor que nos foi legado - e que hoje tão pouco se usa!
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Desejo-vos uma boa 4ª feira - eu sei que vou ter!
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sábado, 6 de outubro de 2007

O Monte da D. Adília

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Esta publicação, a última relativa às férias, é dedicada a duas pessoas, de quem gosto particularmente: à Fatinha de Amares, pelas (boas) evocações que lhe provocará, e à Helena, já que todos os seus discursos sobre o (também seu) futuro passam por um monte alentejano, como este que aqui se apresenta.
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A ambas, que as memórias e os sonhos sejam, sempre, coisas boas e perduráveis. Ou, quem sabe, concretizáveis.
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Almograve

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A Praia de Almograve foi o último local que descobri. Foi, também, a praia mais encantadora que conheci.
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Embora muito belas, as imagens não fazem justiça a Almograve - não registam o ambiente, a temperatura, a cor, a serenidade dum espaço peculiar e - em todos os sentidos - protegido.
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Gostei muito.
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domingo, 30 de setembro de 2007

Ainda as férias: Praia da Rocha

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Há locais que falam por si - ou, como é o caso, em que as imagens afastam as palavras.
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terça-feira, 25 de setembro de 2007

O melhor dos melhores

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Esta publicação pretende responder a uma do Movimentar. Aí se afirma que, se a Ginástica fosse fácil, chamava-se Futebol. Concordo. Mas o desporto pode ser um fenómeno, se encontrarmos o seu exemplar mais próximo da perfeição.
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Bobby Ficher tem um lugar de destaque nessa galeria (se o Xadrez é um desporto, claro). Campeão do mundo que arrasou a concorrência, dele se diz que antecipava 8 a 10 lances, entre as possibilidades de jogadas do adversário e as suas respostas a cada uma. Um jogador de topo não chega às 5 antecipações. Mas só demonstrou o seu excepcional talento por uma vez ...
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Nadia Comaneci terá sido, também, um desses raros seres. Sou uma pessoa mais feliz por ter podido assistir ao seu estrondoso triunfo, já lá vão muitos anos. Mas o seu triunfo foi algo fugaz. talvez porque a Ginástica não é compatível com o passar dos anos, não sei.
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Ambos se destacaram em desportos eminentemente individuais. Isso ajuda.
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Merkx ou Amstrong, no Ciclismo, e Pélé ou Maradona, no Futebol, são outros bons exemplos, mais duradoiros, mas não tão marcantes - afinal, cada um deles foi apenas 1 no meio de 11 ou de dezenas. Entre tanta gente, é difícil brilhar em plenitude.
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Talvez por isso, e ainda porque foi o desporto que abracei, o nome maior, para mim, seja o de Michael "Air" Jordan. Começou nos Jogos Olímpicos de Barcelona, reinou por uns dez anos, saiu por um ou dois para descansar da alta competição, regressou e, mais uma vez, apenas para confirmar, foi de novo o melhor jogador do planeta. Também testemunhei a sua carreira e, sobretudo, esse fantástico último ano. Na final, na sua equipa de sempre, os Chicago Bulls, no último período de jogo, assumiu as despesas do jogo e carregou tudo e todos até ao título. Foi uma coisa assombrosa, que nunca mais esquecerei. Em todos os ataques, os seus companheiros entregavam-lhe a bola e deslocavam-se para um canto, deixando-lhe a maior parte do espaço para o seu solo. Que assumiu. E actuou. Batendo todos os adversários, um a um ou em grupo.
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Fica aqui um tributo que lhe fizeram. Aponto só duas ou três pequenas particularidades:
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Voa para o cesto desde a cabeça do garrafão, o círculo de onde se concretizam os lances livres.
Os outros jogadores só aí abandonam o batimento da bola e ainda dão dois passos, antes de subir, em busca do aro apetecido. Ele tinha asas, onde os outros caminhavam. E caminham.
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Não era um jogador pequeno, antes pelo contrário - e, no entanto, tinha a agilidade dos mais magros e a força dos mais pesados. Passava pelo mais pequeno espaço e impunha a sua presença face a qualquer adversário. Todas as soluções estavam na sua mente e eram executadas pelo seu corpo.
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Quando não existia solução para passar, fazia uma coisa que eu tentei vezes sem conta, sem conseguir (eu nunca fui jogador de topo, mas tentei muito!): lançava a bola para a frente, em direcção ao cesto, tendo o corpo a deslocar-se em sentido contrário, voando para trás, dessa forma afastando-se do(s) adversário(s) directo(s).
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Nos jogos colectivos, os melhores antecipam o que vai acontecer (à semelhança do Xadrez, curiosamente). A minha memória mais marcante é de um lance livre, em que a bola não entrou - bateu fortemente na parte de trás do aro e ressaltou em sua direcção. Mas Jordan não esperou para ver se ela entrava - já estava no ar, aquando do ressalto, para a agarrar e afundar, de imediato. Todos os outros, companheiros e adversários, ficaram no chão, a ver. E a prestar, dessa forma, o tributo que o melhor merecia.

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sábado, 22 de setembro de 2007

O brilho

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Gosto dos conceitos construídos, elaborados, com metáforas a suportá-los, a embelezá-los, de tal forma que nos apetece usá-los nas ocasiões propícias, uma e outra vez.
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Também os procuro criar, sabendo o quão difícil é neste tempo de partilha absoluta, de criação frenética, de transmissão imparável e de registo simples.
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Um houve que me agradou particularmente, quando o moldei. Na altura, quando a lei de bases do sistema educativo mudou, quando as novidades, não testadas no terreno, surgiam em catadupa, numa oportunidade para intervir na análise à realidade que então vivíamos, afirmei que os Professores eram canários em mina de carvão, colocados no sistema e aí abandonados, a quem nada se perguntava, quanto à forma e ao conteúdo da acção educativa, de quem nada se esperava activamente - e que os próprios assumiam com naturalidade. De vez em quando, de longe a longe, lá vinha alguém ver como as coisas corriam. O alrme só surgiria quando vissem o canário morto. Nessa altura, começariam por fugir às responsabilidades do que tinha acontecido e preparariam outra reforma - procurando mudar as coisas, em resultado do triste evento.
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Apetece-me dizer que as mudanças que vão acontecendo são a confirmação do que previa - mas tenho que fazer mea culpa e assumir que errei. Agora, depois de nos deixarem sózinhos no campo de batalha, descobriram que ainda vivíamos. Como isso não deveria ter acontecido, escolheram a melhor forma para resolver de vez o assunto - gaseando os Professores.
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Mas deixemos as coisas tristes na mina e passemos a outra, que hoje se me revelou.
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Quando trabalhava directamente com Alunos, muitas vezes tentava mexer com a sua capacidade de raciocinar e de argumentar, de defender e contra-argumentar. Uma das fórmulas que criei e utilizava (todos sabemos que há muitas e diversas) consistia na simples pergunta, dirigida ao colectivo, que procurava saber até onde, em distância, conseguíamos ver, ou seja, qual a distância máxima que a nossa visão alcançava.
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As respostas eram, sempre, crescentes, no valor. Começavam com alguns quilómetros, depois passavam a muitos, atingiam a linha do horizonte, subiam ao sol, passavam o negrume do céu e chegavam, naturalmente, às estrelas.
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Depois vinha a parte mais importante do exercício: passar da perspectiva do que conseguíamos ver para a da capacidade para se mostrar. As estrelas eram visíveis porque tinham a capacidade de brilhar, de emitir luz, e só porque o conseguiam fazer, eram notórias aos nossos olhos.
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Também no céu relacional em que viajamos somos estrelas. Umas brilham mais que outras, havendo algumas - os buracos negros - que ninguém vê, até ser demasiado tarde. Aspiro a brilhar um pouco mais que as que me cercam, mas aceito bem ter brilho similar. Não quero ser, nunca, uma estrela sem luz. Não quero encontrar uma destas, sequer. Se isso acontecer, lutarei até ao limite das minhas forças contra a sua atracção. Nem me agradam as falsas, que brilham porque reflectem o brilho de outras, já que não são capazes de ter luz própria. Do mesmo modo, não esperem que eu assim seja.
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Digam lá se esta imagem não está deliciosa? É nestas pequenas coisas que o meu brilho se destaca ...
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quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Mais locais de sonho, por cá

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Milfontes, com a foz e as praias encravadas ou de areal extenso.
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O Parque das Águas, na Boavista dos Pinheiros, onde a serra começa a estender-se em direcção ao mar.
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Caldas de Monchique, onde a quietude se ergue em direcção ao céu.
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sábado, 15 de setembro de 2007

Costa Vicentina

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As férias levaram-me para o sul, também. Sol e calor, mar e serra.
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Estrategicamente colocado, visitei 8 ou 9 locais numa semaninha.
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Um dos mais surpreendentes, pela paisagem agreste e nórdica, foi o Cabo Sardão. Por esta altura, deveria ter sido já promovido a General Sardão.
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Que o bicho não é pequeno!
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Também a Zambujeira do Mar é um local espantoso - para quem só a conhecia de ouvir falar no festival.
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Os famosos também a procuram e frequentam. Vejam se adivinham quem é (à direita, ao fundo, com formas bem interessantes)!
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Já a Fóia faz lembrar outros montes, outras alturas. Mas não deixa de ser impressionante.
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Ainda que o nevoeiro não permita partilhar a sensação com qualidade.
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segunda-feira, 10 de setembro de 2007

Barca D'Alva e S. Pedro do Sul

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No final da primeira parte das férias, rumei a dois locais que partilham a beleza da interioridade e revelam particularidades próprias e deslumbrantes:
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A pacatez de Barca D'Alva, outrora centro privilegiado de passagem, hoje esperando pelo desenvolvimento, repetidamente anunciado, da navegabilidade do Douro, para "ressuscitar" essa e outras dinâmicas.
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Ao longe, entre vales, olival e vinha, o Douro e Espanha.
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Um barco descansa no porto, recuperando forças para o regresso ao litoral.
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Rio e barragens garantes uma via de acesso a Barca D'Alva.
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Portugal visto de Espanha. Fica explicada a atracção.
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E a serenidade de S. Pedro do Sul, termas muito procuradas, em plena fase de renovação e revitalização, com os custos inerentes (obras, pó, barulho, lixo).
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O jogo da contraluz e das sombras esconde cores desagradáveis.
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Já as ruelas e casas guardam cores, sabores e aromas marcantes.
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