domingo, 29 de julho de 2007

Os meus paradigmas (I - as mudanças)

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Mudamos pouco, ao longo da nossa existência. Não digo que não ocorram tempos propícios para mudarmos, mas são curtos e logo no início da vida. A partir de uma certa altura (idade), só mudamos se acontecer algo que nos traumatize (muito, acrescento).
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Na relação com os mais velhos, o tempo molda-nos de forma peculiar. Quando vale a pena interagir com eles, ou nos incomodam, o que acontece quando somos jovens, ou não lhes ligamos muito. Quando queremos relacionarmo-nos mais de perto, normalmente falta-nos (a todos) o tempo. O seu desaparecimento causa uma sensação de perda tão forte que a distância que um dia cultivamos, aquando da sua velhice, nos passa a incomodar. O que não parecia essencial é mais marcante, depois.
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Nas ligações com o outro (este outro vale pela outra, também), queremos muito que ele mude e se adapte ao que somos. É verdade que elas querem mais disso neles, mas eles não deixam de tentar o mesmo nelas. É uma batalha inglória. As pequenas coisas podem indiciar a mudança pretendida, mas os aspectos que são relevantes mostram que, no fundamental, tudo continua como antes. Os mais felizes são os que conseguem amar o outro, sem o querer moldar, e não sentem essa pressão de mudança. O que significa que os verdadeiramente felizes são raros.
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No que respeita aos mais novos, há mais do que uma possibilidade. A primeira, mais notória, prende-se com a vontade em vê-los crescer como queremos, como achamos melhor. Custa (muito) vê-los desperdiçar esse nosso desejo e traçarem o seu próprio rumo. Isso não é muito dramático se se trata de escolher um modo de vida, uma profissão. Quando escolhem um parceiro, aí sim, dói verdadeiramente. Nunca, mas nunca, escolhem bem – aos nossos olhos. A nossa única consolação é que os vemos a fazer o mesmo que fizemos. E, por isso, achamos natural que façam asneira. E, por isso, lhes perdoamos.
Quando, por força do nosso liberalismo, os deixamos crescer com autonomia, não deixa de ser interessante constatar que conseguem fazer asneiras do mesmo tipo. Só que sentimos mais, porque também nos interrogamos mais. É a única altura em que questionámos a opção tomada.
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As coisas até rolam bem, sobretudo porque somos bons a adaptar-nos às situações e a desvalorizar as mudanças que não conseguimos promover.
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Dramas são alavancas de mudança. Morte, separação, filhos, ou acidentes graves podem produzir, produzem quase sempre, mudanças profundas.
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Duas hipóteses são mais propícias que as restantes. A morte ou desaparecimento de um filho (por ser contra natura, por não ser normal o pai chorar um filho) e a separação ou divórcio (por muito amigável que seja, para os próprios e para os que deles dependem).
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Nestes casos, a mudança também pode ter grau diferente, consoante se atire para o outro, ou se assuma, a culpa nesse acontecimento. No último caso, pode mesmo ser chocante. Ou acabar com quem somos.
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