terça-feira, 25 de setembro de 2007

O melhor dos melhores

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Esta publicação pretende responder a uma do Movimentar. Aí se afirma que, se a Ginástica fosse fácil, chamava-se Futebol. Concordo. Mas o desporto pode ser um fenómeno, se encontrarmos o seu exemplar mais próximo da perfeição.
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Bobby Ficher tem um lugar de destaque nessa galeria (se o Xadrez é um desporto, claro). Campeão do mundo que arrasou a concorrência, dele se diz que antecipava 8 a 10 lances, entre as possibilidades de jogadas do adversário e as suas respostas a cada uma. Um jogador de topo não chega às 5 antecipações. Mas só demonstrou o seu excepcional talento por uma vez ...
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Nadia Comaneci terá sido, também, um desses raros seres. Sou uma pessoa mais feliz por ter podido assistir ao seu estrondoso triunfo, já lá vão muitos anos. Mas o seu triunfo foi algo fugaz. talvez porque a Ginástica não é compatível com o passar dos anos, não sei.
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Ambos se destacaram em desportos eminentemente individuais. Isso ajuda.
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Merkx ou Amstrong, no Ciclismo, e Pélé ou Maradona, no Futebol, são outros bons exemplos, mais duradoiros, mas não tão marcantes - afinal, cada um deles foi apenas 1 no meio de 11 ou de dezenas. Entre tanta gente, é difícil brilhar em plenitude.
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Talvez por isso, e ainda porque foi o desporto que abracei, o nome maior, para mim, seja o de Michael "Air" Jordan. Começou nos Jogos Olímpicos de Barcelona, reinou por uns dez anos, saiu por um ou dois para descansar da alta competição, regressou e, mais uma vez, apenas para confirmar, foi de novo o melhor jogador do planeta. Também testemunhei a sua carreira e, sobretudo, esse fantástico último ano. Na final, na sua equipa de sempre, os Chicago Bulls, no último período de jogo, assumiu as despesas do jogo e carregou tudo e todos até ao título. Foi uma coisa assombrosa, que nunca mais esquecerei. Em todos os ataques, os seus companheiros entregavam-lhe a bola e deslocavam-se para um canto, deixando-lhe a maior parte do espaço para o seu solo. Que assumiu. E actuou. Batendo todos os adversários, um a um ou em grupo.
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Fica aqui um tributo que lhe fizeram. Aponto só duas ou três pequenas particularidades:
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Voa para o cesto desde a cabeça do garrafão, o círculo de onde se concretizam os lances livres.
Os outros jogadores só aí abandonam o batimento da bola e ainda dão dois passos, antes de subir, em busca do aro apetecido. Ele tinha asas, onde os outros caminhavam. E caminham.
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Não era um jogador pequeno, antes pelo contrário - e, no entanto, tinha a agilidade dos mais magros e a força dos mais pesados. Passava pelo mais pequeno espaço e impunha a sua presença face a qualquer adversário. Todas as soluções estavam na sua mente e eram executadas pelo seu corpo.
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Quando não existia solução para passar, fazia uma coisa que eu tentei vezes sem conta, sem conseguir (eu nunca fui jogador de topo, mas tentei muito!): lançava a bola para a frente, em direcção ao cesto, tendo o corpo a deslocar-se em sentido contrário, voando para trás, dessa forma afastando-se do(s) adversário(s) directo(s).
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Nos jogos colectivos, os melhores antecipam o que vai acontecer (à semelhança do Xadrez, curiosamente). A minha memória mais marcante é de um lance livre, em que a bola não entrou - bateu fortemente na parte de trás do aro e ressaltou em sua direcção. Mas Jordan não esperou para ver se ela entrava - já estava no ar, aquando do ressalto, para a agarrar e afundar, de imediato. Todos os outros, companheiros e adversários, ficaram no chão, a ver. E a prestar, dessa forma, o tributo que o melhor merecia.

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