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Gosto dos conceitos construídos, elaborados, com metáforas a suportá-los, a embelezá-los, de tal forma que nos apetece usá-los nas ocasiões propícias, uma e outra vez.
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Também os procuro criar, sabendo o quão difícil é neste tempo de partilha absoluta, de criação frenética, de transmissão imparável e de registo simples.
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Um houve que me agradou particularmente, quando o moldei. Na altura, quando a lei de bases do sistema educativo mudou, quando as novidades, não testadas no terreno, surgiam em catadupa, numa oportunidade para intervir na análise à realidade que então vivíamos, afirmei que os Professores eram canários em mina de carvão, colocados no sistema e aí abandonados, a quem nada se perguntava, quanto à forma e ao conteúdo da acção educativa, de quem nada se esperava activamente - e que os próprios assumiam com naturalidade. De vez em quando, de longe a longe, lá vinha alguém ver como as coisas corriam. O alrme só surgiria quando vissem o canário morto. Nessa altura, começariam por fugir às responsabilidades do que tinha acontecido e preparariam outra reforma - procurando mudar as coisas, em resultado do triste evento.
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Apetece-me dizer que as mudanças que vão acontecendo são a confirmação do que previa - mas tenho que fazer mea culpa e assumir que errei. Agora, depois de nos deixarem sózinhos no campo de batalha, descobriram que ainda vivíamos. Como isso não deveria ter acontecido, escolheram a melhor forma para resolver de vez o assunto - gaseando os Professores.
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Mas deixemos as coisas tristes na mina e passemos a outra, que hoje se me revelou.
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Quando trabalhava directamente com Alunos, muitas vezes tentava mexer com a sua capacidade de raciocinar e de argumentar, de defender e contra-argumentar. Uma das fórmulas que criei e utilizava (todos sabemos que há muitas e diversas) consistia na simples pergunta, dirigida ao colectivo, que procurava saber até onde, em distância, conseguíamos ver, ou seja, qual a distância máxima que a nossa visão alcançava.
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As respostas eram, sempre, crescentes, no valor. Começavam com alguns quilómetros, depois passavam a muitos, atingiam a linha do horizonte, subiam ao sol, passavam o negrume do céu e chegavam, naturalmente, às estrelas.
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Depois vinha a parte mais importante do exercício: passar da perspectiva do que conseguíamos ver para a da capacidade para se mostrar. As estrelas eram visíveis porque tinham a capacidade de brilhar, de emitir luz, e só porque o conseguiam fazer, eram notórias aos nossos olhos.
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Também no céu relacional em que viajamos somos estrelas. Umas brilham mais que outras, havendo algumas - os buracos negros - que ninguém vê, até ser demasiado tarde. Aspiro a brilhar um pouco mais que as que me cercam, mas aceito bem ter brilho similar. Não quero ser, nunca, uma estrela sem luz. Não quero encontrar uma destas, sequer. Se isso acontecer, lutarei até ao limite das minhas forças contra a sua atracção. Nem me agradam as falsas, que brilham porque reflectem o brilho de outras, já que não são capazes de ter luz própria. Do mesmo modo, não esperem que eu assim seja.
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Digam lá se esta imagem não está deliciosa? É nestas pequenas coisas que o meu brilho se destaca ...
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