terça-feira, 21 de outubro de 2008

O Zé Milímetro

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Dum tempo ausente de concentrados de promotores de crescimento fácil, mas crestado no azeite doirado da frigideira, chegavam alguns moços peculiares, mais na forma que na veste, seja a que cobre o corpo ou daquela que fervilha no silêncio e faz avançar o mundo. Era o caso do mais espigado do grupo, vergado mesmo pelos ventos das entradas e dos carros feitos para miudinhos, que o obrigavam a assumir pose humilde, ainda que o espírito reclamasse dos trabalhos forçados que lhe atacam o espinhoso suporte da elevada postura.
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Carinhosamente apelidado de Milímetro, o Zé tinha, seguramente, mais uns bons 30 centímetros que qualquer outro, o que implicava, necessária e religiosamente, um molho de espirituosas observações, que transitavam das diferenças climáticas ou climatéricas, nos diversos níveis que frequentávamos, até às passadas que traziam velocidades díspares, em momentos atléticos mais ou menos formais.
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Mas o que melhor recordo centra-se nas duas extremidades que o Zé Milimetro ostentava, normalmente, com plena satisfação. O nariz, bem encorpado, que lhe trazia desconforto aquando da prática desportiva que melhor desempenhava, não por razões físicas, antes pelos ditos frequentes dos que com ele partilhavam essa actividade. Regularmente, um qualquer dizia-lhe, quando ele estava concentrado na tabela inimiga, para olhar para o outro lado ... para não ser apanhado no garrafão, na penalização dos 3 segundos. Que o avantajado apêndice estava sempre dentro dessa área restritiva!
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Mas não ficavam por aí, os piadéticos amigos que com ele conviviam; também os seus pés eram alvo constante de comentários, que volteavam entre a pesquisa no impossível número que vestiam e as notícias que davam conta da entrada de ... navios de grande porte na doca de Leixões, inesperados, mas que se justificavam por o Zé estar voltado para o mar, no momento em que se rezava a graça. Bons tempos estes, os do vinho que alimentava um milhão de portugueses.
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