sábado, 8 de dezembro de 2007

Destino, opções e coragem

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O destino é, conceptualmente, difuso, diria mesmo confuso. Muitos não sabem se está traçado ou se vai sendo construído. Uns garantem que nada há a decidir, tudo está previsto, nas estrelas ou noutro lado qualquer. Outros afirmam que é aquilo que nós fazemos, todos os dias. Há, ainda, quem considere que não existe.
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Só é possível tomar parte na discussão se analisarmos o passado, verificando o que fizemos e porque o fizemos. Esta fórmula tenta-me a acompanhar quem diz que ele não existe, que não existe isso de vida desenhada, traçada, coerente e determinada – seja previamente, seja momento a momento, por cada um. Mas também me obriga a aceitar que, seja por desígnio divino, seja por auto-controlo dos actos praticados, o destino é uma realidade factual.
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Nascer é acção decidida por outrem, sempre. Se somos o mais jovem do grupo e se os nossos pais não o planearam, então essa coisa do destino não é tão impossível assim.
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Durante anos, o que fazemos é pouco nosso, muito mais o que outros querem. Mas crescer é tanto nosso quanto do meio. Desde muito cedo, somos confrontados com oportunidades, com opções, que ocorrem indiscriminadamente e inesperadamente. O que com elas fazemos decide muito do que vamos ser. Estudar ou não, respeitar ou ser mal-educado, cumprir as regras ou delinquir, arriscar ou assegurar, tudo conta.
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Basta pensar em quem nos acompanhou, nos bancos da Escola. Os que ficaram para trás, os que sempre lideraram, os que morreram pelas opções que tomaram. E nós, no que decidimos, quando o fizemos. A área que escolhemos, o curso que seguimos, a profissão que abraçamos, os amigos, o cônjuge (bela palavra, até pelo género) … .
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Em todo o caso, foram muitas as vezes que escolhemos, que optamos. Fizemo-lo de forma mais consensual, conservadora, ou mais radical, conflituosa.
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O que nos distingue, em muitos destes passos dados, não é a oportunidade surgir (porque ela surge, sempre) – é a forma como a tratamos. A coragem de cortar com o conhecido, o seguro, e avançar, decididos, para um futuro que não dominámos. Ou, em alternativa, não o fazer, e ficar acomodado no mundo que dominamos.
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A minha vida não foi serena, linear – não o está a ser, sequer. Estudei numa Escola (Liceu) destinada a prendar as raparigas para o casamento e a preparar os rapazes para uma vida melhor (mantida ou conquistada, conforme o status social da família). Porque oriundo de meio não abastado, fui mais feliz que aqueles que estudaram na Escola alternativa (Industrial e Comercial), a que não criava grandes opções para os tempos vindouros, antes mantinha a estrutura social vigente. Vivíamos um tempo de contrastes obscuros, de cinzentos mais ou menos graduados.
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Cresci mudando, umas vezes pouco ou sem sobressaltos, outras mais dramaticamente. Ao entrar no Superior, mudei de cidade, saí das saias da mãe. Ao terminar o curso, arrisquei num futuro incerto mas aberto. Recuei e acantonei-me na segurança da rotina. Recentemente, de alguma forma, voltei-me para caminhos de ruptura, que estou pronto a percorrer.
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Fiz a minha vida? Creio que sim. Estou, ainda, a projectá-la? Sem dúvida. Fui corajoso? Não tanto quanto deveria ter sido, no passado. Hoje, sou apenas realista. Não quero morrer antes do tempo, não quero ficar parado e ser afastado. Só por isso me movo. Só por isso, aceito mudar.
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Mais uma vez.
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