domingo, 21 de outubro de 2007

Segredo e reserva

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Voltando aos (ou volteando nos) conceitos próximos, e realçando que não se pretende aceder a qualquer positivismo, tratamos hoje de segredo e de reserva. Parece que são termos de alcance diferente – maior aquele, mais restrito este. Mas não é assim ...
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Os segredos são uma condição. Temo-los em função do que conhecemos e, sobretudo, do que escondemos. Podem nascer noutro e viajar na nossa direcção, ou podemos produzi-los. Em todo o caso, implicam um acto objectivo de ocultação. Questionados, negamos o seu conhecimento; não havendo perguntas, nada dizemos. Até uma dada altura, até que algo aconteça. A partir desse momento, dessa ocorrência, é legítimo, é mesmo imperioso que o divulguemos. Não está certo carregar os segredos para o túmulo - até porque isso vai obrigar à sua procura, posterior, com as dificuldades e os insucessos que a história documenta.
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Os segredos são incorrectos, no sentido em que os outros pensam que os devem conhecer e que não agimos bem ao guardá-los. Se sabem que temos segredos, não mais nos largam – querem conhecê-los de imediato e não entendem porque os continuamos a esconder. Podem não fazer a mínima ideia do que são, se são ou não importantes para si, mas isso é irrelevante. Se há um segredo, movem céu e terra para o desvendar.
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Quando os divulgámos, por que chegou o tempo ou aconteceu o que era condicionante, ou mesmo porque não fomos capazes de os guardar, sentimos tristeza, por perder algo, e muita satisfação – já não precisamos de continuar calados, podemos falar no assunto, agora com conhecimento de causa. Afinal, fomos nós que o lançámos no mundo!
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Já a reserva é algo pessoal, não tem origem noutros, não é transaccional. Temo-la desde muito cedo, num ou em diversos campos em que nos movimentamos. Alguma acompanha-nos pela vida fora. É um suporte essencial para a sanidade mental, para o bem-estar, para um sentimento de realização pessoal. Em situação normal, a nossa reserva não transpira, logo não é, muitas vezes, sequer acossada. Passa despercebida, camuflada.
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Mais uma vez, os outros com quem lidamos consideram errado que tenhamos este mundo privado. Também insistem. Por vezes, raramente mas acontecendo, desvendamos uma delas, ou a única. Quando o fazemos, nunca é por ter chegado o tempo ou ter-se verificado a condição. Nem sequer resulta da insistência do outro. Apenas porque achamos que esse outro merece a partilha, que não devemos privá-lo deste pedaço de vida que reservámos. Puro engano. Ainda que tal se revele só muitos anos depois, esse acto será sempre um erro, grosseiro. O outro nada ganha com o desvendar e nós perdemos muito – muitas vezes tudo.
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É saudável ter uma área da vida reservada. É bom manter essa reserva, para os momentos (que sempre surgem) menos bons. É aceitável que o outro a tenha e é adequado não a procurar – e nunca solicitar que no-la revelem é uma boa forma de (con) viver com o outro.
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Eu tenho algumas reservas. Os segredos da minha vida estão revelados. Vou ter mais alguns segredos, que irei divulgar. Mas o que reservo na minha vida é para continuar assim.
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