domingo, 20 de abril de 2008

As coisas boas da vida

.
A vida é uma espiral de sensações, sabores, sons e sentimentos. O bater do coração acompanha esta miríade de cores, já que cada tempo se associa à palete cromática do arco-íris.
.
Num dado tempo, da imaturidade pujante, em que as emoções andam à solta, o que nos escapa é o que mais marca. Gostaríamos de aspirar tudo, testar todas as hipóteses, provar todos os sabores. Mas a juventude é, também, a idade do desperdício, do fogo fátuo, da esperança no futuro, que tem face de eternidade.
.
Depois, com o tempo, vem a quietude, a serenidade, a vida conformada. Se, naquele tempo, as cores foram pinceladas em tons gritantes, agora são as calorosas que dominam, ocres matizados de sangue, oceanos tingidos de pele. Vive-se no tempo, sem tempo a contar, antes daquele em que a constante será a medida precisa do que se pode viver.
.
Há, assim, um período mais frio a percorrer. A alvura das cãs não é perene, antes se cruza com prateados mais ou menos carregados e com noites despidas de luar. Sempre que a luz parece ser a constante, lá surge a negritude dolorosa a quebrar o mar de sal. Não será uma surpresa, nem inesperado, antes implica uma aceitação complacente, de quem sabe que a vida é assim mesmo.
.
O que torna tudo bem mais interessante é o inesperado. Provavelmente, não no tempo das cores fortes; se acontecer, nem se notará. Mas nos calorosos tons da serenidade, quando a rotina marca o ritmo, o sabor será, necessariamente, delicioso. Mais ou menos apimentado, com alguma toxicidade, de risco marcado ou não; se movimenta a tranquilidade, agita a vida. E quando se apresenta no final do dia nublado, escurecido pela chuva que arrefece o corpo? No branco que se cruza com a noite? Quando se olha para trás, porque a memória domina? Ah, aqui é a vida que se renova. Pode ser sem o brilho do passado mas é a vida, sobretudo, sem o frio do presente.
.
Uma coisa é certa - todos os momentos que nos fazem crescer, custam um pouco. No princípio, com valor marcado e constante. Depois, com custos controlados. No fim, com um preço elevado.
É a vida.
.
.

sexta-feira, 11 de abril de 2008

Domínio Público

.
.
Recebi, pela 3ª ou 4ª vez, um mail que releva um site brasileiro de indiscutível utilidade. As obras que disponibiliza são, já, de domínio público, ou seja, não estão sujeitas a direitos de autor.
.
Mais uma vez, abri um dos links do mail e fui dar a uma obra que faz parte da minha (boa) memória: o Auto da Barca do Inferno.
.
Também se pesquisam autores, no site, como fiz com Gil Vicente.
.
Estes meios electrónicos servem para isso e para mais isto - a partilha. Vou passar-vos a parte que mais gosto, desde aqueles tempos idos em que o teatro fazia parte das noites da televisão, ainda a preto e branco. Aqui vai ->
.
.
Vem Joane, o Parvo, e diz ao Arrais do Inferno:
.
PARVO Hou daquesta!
DIABO Quem é?
PARVO Eu soo.
É esta a naviarra nossa?
DIABO De quem?
PARVO Dos tolos.
DIABO Vossa.
Entra!
PARVO De pulo ou de voo?
Hou! Pesar de meu avô!
Soma, vim adoecer
e fui má-hora morrer,
e nela, pera mi só.
DIABO De que morreste?
PARVO De quê?
Samicas de caganeira.
DIABO De quê?
PARVO De caga merdeira!
Má rabugem que te dê!
DIABO Entra! Põe aqui o pé!
PARVO Houlá! Nom tombe o zambuco!
DIABO Entra, tolaço eunuco,
que se nos vai a maré!
.
PARVO Aguardai, aguardai, houlá!
E onde havemos nós d'ir ter?
DIABO Ao porto de Lucifer.
PARVO Ha-á-a...
DIABO Ò Inferno! Entra cá!
PARVO Ò Inferno?... Eramá...
Hiu! Hiu! Barca do cornudo.
Pêro Vinagre, beiçudo,
rachador d'Alverca, huhá!
Sapateiro da Candosa!
Antrecosto de carrapato!
Hiu! Hiu! Caga no sapato,
filho da grande aleivosa!
Tua mulher é tinhosa
e há-de parir um sapo
chantado no guardanapo!
Neto de cagarrinhosa!
.
Furta cebolas! Hiu! Hiu!
Excomungado nas erguejas!
Burrela, cornudo sejas!
Toma o pão que te caiu!
A mulher que te fugiu
per'a Ilha da Madeira!
Cornudo atá mangueira,
toma o pão que te caiu!
.
Hiu! Hiu! Lanço-te üa pulha!
Dê-dê! Pica nàquela!
Hump! Hump! Caga na vela!
Hio, cabeça de grulha!
Perna de cigarra velha,
caganita de coelha,
pelourinho da Pampulha!
Mija n'agulha, mija n'agulha!
.
Chega o Parvo ao batel do Anjo e diz:
.
PARVO Hou da barca!
ANJO Que me queres?
PARVO Queres-me passar além?
ANJO Quem és tu?
PARVO Samica alguém.
ANJO Tu passarás, se quiseres;
porque em todos teus fazeres
per malícia nom erraste.
Tua simpreza t'abaste
pera gozar dos prazeres.
.
Espera entanto per i:
veremos se vem alguém,
merecedor de tal bem,
que deva de entrar aqui.
.
.

sábado, 5 de abril de 2008

Abril caliente

.
.
Um dia sereno ...
.

.
.
.
.
.

.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
Um ou dois bons livros ...
.
.

.
.
.
.


.

.

.

.

.

.

Uma paisagem com enquadramento perfeito ...

.

.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.
.

.
E a água salgada nos pés!
.

.
É preciso mais alguma coisa para um tempo perfeito?
.
.