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A vida é uma espiral de sensações, sabores, sons e sentimentos. O bater do coração acompanha esta miríade de cores, já que cada tempo se associa à palete cromática do arco-íris.
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Num dado tempo, da imaturidade pujante, em que as emoções andam à solta, o que nos escapa é o que mais marca. Gostaríamos de aspirar tudo, testar todas as hipóteses, provar todos os sabores. Mas a juventude é, também, a idade do desperdício, do fogo fátuo, da esperança no futuro, que tem face de eternidade.
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Depois, com o tempo, vem a quietude, a serenidade, a vida conformada. Se, naquele tempo, as cores foram pinceladas em tons gritantes, agora são as calorosas que dominam, ocres matizados de sangue, oceanos tingidos de pele. Vive-se no tempo, sem tempo a contar, antes daquele em que a constante será a medida precisa do que se pode viver.
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Há, assim, um período mais frio a percorrer. A alvura das cãs não é perene, antes se cruza com prateados mais ou menos carregados e com noites despidas de luar. Sempre que a luz parece ser a constante, lá surge a negritude dolorosa a quebrar o mar de sal. Não será uma surpresa, nem inesperado, antes implica uma aceitação complacente, de quem sabe que a vida é assim mesmo.
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O que torna tudo bem mais interessante é o inesperado. Provavelmente, não no tempo das cores fortes; se acontecer, nem se notará. Mas nos calorosos tons da serenidade, quando a rotina marca o ritmo, o sabor será, necessariamente, delicioso. Mais ou menos apimentado, com alguma toxicidade, de risco marcado ou não; se movimenta a tranquilidade, agita a vida. E quando se apresenta no final do dia nublado, escurecido pela chuva que arrefece o corpo? No branco que se cruza com a noite? Quando se olha para trás, porque a memória domina? Ah, aqui é a vida que se renova. Pode ser sem o brilho do passado mas é a vida, sobretudo, sem o frio do presente.
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Uma coisa é certa - todos os momentos que nos fazem crescer, custam um pouco. No princípio, com valor marcado e constante. Depois, com custos controlados. No fim, com um preço elevado.
É a vida.
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