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segunda-feira, 24 de novembro de 2008

Mais Haicais

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Os Haicais são poemas de três versos que, no rigor das regras originais, devem ter 17 sílabas, cinco no primeiro verso, sete no segundo e cinco no terceiro. São reportados no presente e normalmente enquadram, para além dos sentimentos, a natureza nas estações do ano. Aliás, a sua organização básica assenta nas quatro estações, acrescidas do Natal.
Mas é normal e aceitável que estas regras não sejam adoptadas pelos bárbaros estrangeiros, que os tomaram como seus (ou seja, nós, os ocidentais). Importa manter, isso sim, o uso curto da palavra e a estrutura geral.
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Depois de um primeiro assomo, sem transpiração, eis outro, mais trabalhado.
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Todas as noites do ano
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Na longa madrugada,
resta no leito uma confortável quentura.
É a da soma dos corpos.
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Ralos trauteiam canções
que nos embalam no sono dos sonhos,
até o silêncio acordar.
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Leve lençol nos afaga.
O toque mais afasta que demanda
a companhia prezada.
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As castanhas desassossegam
as vontades adormecidas, repousadas, serenas.
Assim Eros se alimenta.
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sábado, 22 de novembro de 2008

Aprendizagens aceleradas

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Provavelmente, o haicai será o único poema que me atrevo a subscrever. Porque é simples e capaz de dizer tudo, em poucas palavras. Aqui vão dois ou três que me/te explicam:
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Exposição
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Como uma instalação,
exposição é o que não era.
No natal, expões-te?
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Tempo frio
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De dia, sob o sol, aqueço.
Mas a noite chega depressa, fria, e
A minha, agora, mora em casa.
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Ter e não ter
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O rio cresce, com a chuva,
como o meu prazer com a tua companhia.
Quando não, secam.
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Poema dedicado
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Escrevo um poema numa tela
Como se sentisse as cores e a textura.
É para ti que o faço.
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São poemas que se podem traduzir. Falam mais de ti que de mim, são do tempo que vivemos, poupam nas palavras e explodem no sentido. São, acima de tudo, adaptáveis.
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quarta-feira, 5 de novembro de 2008

A obra desvendada

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Na tela branca, um traço, um fio, moldou
um retrato do que sinto, amo e sou.
O lugar, quente e privado, flutua no cordame.
Reflexos de luzes, no espelho líquido ondulado,
dobram a quietude, em grande cumplicidade.
Tabuleiro, arco, pilar. Colina que se esconde
nas sombras da hora tardia. É aí, no cais onde
tudo aconteceu. Feliz, pintei. Eis a verdade!
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Dama Teresa de Carvalhais
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O despertar da perda

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Vem a noite, sorrateira, vem cansada.
Vem a noiva, um polícia, um gato negro,
cada um por sua vez, como num quadro
desenhado por mão leve e repousada.
Nuvens deslizam, desmaiadas e barrentas
na luz cálida, sensatamente calada
que se move como as vidas, curtas, lentas,
numa curva da avenida larga e fechada.
As paredes, descoradas, são tristezas
que aí estão, sem apelo. Já as mesas,
que pontilham as praças deslumbrantes,
São esgares de pontadas lancinantes.
No negro colorido do sofrido querer
que a alma arrasta neste mundo de perder,
todos se sentem assim, quase a morrer.
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Mestre Carvalho Negral....

sábado, 1 de novembro de 2008

Outro, que trago. Seleccionado, neste tempo.

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Diálogo dos sentidos
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Numa onda de emoções naufraguei, sentida,
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Na estonteante e certeira chicotada. M’enlevo,
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Quebrada. Quero muito, aspiro tanto, dividida.
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Oh sereno, seguro, suportável porto. Devo?
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Tu, se conheces as virtudes certas, sussurra
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Uma resposta, uma certeza. Sopra, murmura.
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Nada se compara, se afirma. Nada se diz, falando.
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Dividida, és razão que comanda o coração, talvez.
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Olha para ti, de olhos fechados, sempre espreitando
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O mundo só teu. Viaja na emoção, por uma só vez
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E pesa, sem pesares, o castelo a edificar, o futuro.
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Depois, dá um passo, outro a seguir. Ergue o muro!
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Sentida, me enlevo, dividida.
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Devo? Sussurra, murmura ...
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Falando, talvez. Espreitando, por uma só vez
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O futuro, ergue o muro!
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Dama Teresa de Carvalhais e Mestre Carvalho Negral....
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sábado, 25 de outubro de 2008

O primeiro doutros que trarei

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A liberdade do sonho
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Serena idade, que me descansas a alma, de perdição,
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Como se a vida repousasse por momentos; a mágoa
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da vontade reprimida, em leves penas descola e voa.
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Nada me enleva, me toca, me sustenta a noite aberta
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à imagem que povoa o pensamento da mulher certa.
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Mulher que em mim habita, sem rodeios, o coração.
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Quero estar, sem cá ficar. Poder ser, sem tal querer.
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Partir do mundo, sem sair, com posses plenas e vazias.
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Viver o todo, pela parte do pedaço que é apenas um.
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Assim sorvendo o fumado amor carnudo, copo de rum
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Na cana proibida das horas esquecidas, negras e frias.
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Aí, nessa praça que é só minha, podes ficar, amar e ser.
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Mestre Carvalho Negral....
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